Franciele e o Diarinho

 

 

Franciele e o Diarinho

 

1998, 19 anos depois da fundação de um dos jornais mais controversos da região o Diário do Litoral carinhosamente conhecido como Diarinho, recrutava Franciele Marcon, na época com 18 anos para trabalhar na parte de diagramação do jornal. Incentivada pelo fundador do jornal o já falecido Dalmo Vieira, Franciele, ou como é conhecida no meio da imprensa, Fran, se aventurou no curso de jornalismo depois de estar trabalhando no  meio.

Hoje coordenadora geral do jornalismo, Fran passou por diversos setores, desde reportagem, a digitadora até editora do jornal. Sobre algumas caras feias que as pessoas fazem, quando falam do Diarinho, como um jornal sensacionalista, que se você espremer sai sangue, ela é bem clara. “ O Diarinho é jornal mais lido da região ele não pode ser tão ruim assim” conta. Fran também diz que as pessoas tem que parar com o preconceito, e ler o jornal antes de formar uma opinião, pra ver que realmente o Diarinho é a voz do Povo, e é um grande transmissor dos anseios da comunidade.

Nunca trabalhou fora, em outro estado, nem mesmo em outra cidade, mas vê Itajaí como uma das cidades, com a melhor imprensa do estado de Santa Catarina.  Ric Record, TVBE e é claro seu próprio Diarinho, são pra ela grandes representantes de Itajaí.

A moça de 34 anos, de óculos, cabelos compridos, que não parece ter iniciado cobrindo jornalismo de polícia, entrevistando assassinos, traficantes e até estupradores, é uma apaixonada por Itajaí. De acordo com ela a regata Volvo Ocean Race, foi uma grande mostra do que Itajaí pode mostrar pro mundo, e se tornar uma das maiores cidades do País.

Link da Entrevista: https://soundcloud.com/dinho-de-oliveira/frandiarinho

 

 

 

Rubens e Itajaí

Rubens e Itajaí

 

De fala calma, e voz de locutor de programa Romântico de rádio FM, Rubens Angioletti que é natural de Guarulhos, a 26 anos atrás foi morar em São Paulo para buscar seu sonho de ser locutor de rádio. Seu sonho e sua carreira, começaria na rádio União FM, uma rádio musical onde ele era apresentador. 9 anos depois, veio morar Itajaí, cidade que se apaixonou, para trabalhar na Rádio Litoral, um programa também de música. Depois, Rubens e Itajaí se separaram , para o mesmo locutor da voz romântica, ir trabalhar em Blumenau, na Rádio Menina.

Mas Rubens, o homem alto, de cabelos sempre bem cortado, que na época tinha cabelos bem pretos, estava com seu destino traçado a Itajaí, na campanha eleitoral de 1995, o candidato Jandir Bellini, chamou o radialista para trabalhar em sua campanha eleitoral, com o prefeito eleito, Angioletti começou a trabalhar na Assessoria de Comunicação, da sua cidade, tendo assim seu primeiro contato com o jornalismo propriamente dito, e tomando isso como sua maior paixão.

A Itajaí da imprensa, para Rubens, não perde nada para São Paulo, tirando um detalhe, o recursos financeiros. Ele  conta, com a voz calma, em meio ao barulho da Universidade aonde hoje ele estuda jornalismo, que vê a profissão de jornalista como uma linguagem universal, e que pode ser bem feita com qualquer recurso, desde            que seja passada de forma correta. E Itajaí está muito bem representada com veículos como Diarinho, TVBE e Ric Record.

Hoje Rubens, é apresentador do jornal da TVBE, aonde comenta as principais notícias da cidade que é sua paixão, da cidade que tem todos os defeitos do mundo mas ainda assim é a mais apaixonante, como ele mesmo diz, se existir uma cidade perfeita me avise que mesmo assim eu não me mudo pra lá mas vou só conhecer. Na sua visão de ciclista assíduo, faltam acessos e ciclovias, para os usuários de bicicletas, e uma maior preocupação de Itajaí com o meio ambiente.

http://soundcloud.com/dinho-de-oliveira/rubenstvbe

Graciliano e Itajaí.

 

 

Vindo diretamente de Brasília há mais de 20 anos , Graciliano Rodrigues desembarcou em Itajaí para se tornar um dos mais notórios comunicadores da cidade. Juntamente a RIC Record, fez o seu Jornal do Meio Dia ser o primeiro lugar em audiência no Vale do Itajaí, deixando para trás a até então poderosa e imbatível RBS TV e o seu Jornal do Almoço. Ficou conhecido por trazer comentários marcantes, e relevantes não ficando preso somente em chamar as matérias como fazem alguns apresentadores.

Mas na verdade Graciliano começou em Itajaí como radialista, indicado por um amigo para trabalhar na extinta RCE de rádio e televisão, enquanto fazia trabalhos paralelos não ligadosà área da Comunicação. Formado em Educação Artística, antes de dar a notícia, Graciliano fazia esquete, e trabalhos como ator no interior de São Paulo, “ Nunca me imaginei fazendo jornalismo”.

A RCE era filiada da TV Bandeirantes, antes de fechar e ser trocada pela TV Barriga Verde, Graciliano começou como Debatedor do  Programa Canal Livre. Mas, após se destacar com suas ideias, logo ele virou apresentador do Programa nos anos 90.

Ele veste sempre uma camisa social ou um terno, anda sempre com seus cabelos brancos extremamente penteados, e sempre pronunciando um português impecável, Graciliano se mostra muito contente com a imprensa de Itajaí, “ A imprensa de Itajaí é interesantíssima, não perde em nada para os outros noticiários locais do estado” falou o apresentador, que diz também após colocar um sorriso no rosto, se sentir muito orgulhoso, por fazer parte da história da imprensa Itajaíense.

Hoje, Graciliano além do Jornal do Meio Dia que apresenta há 14 anos,  comanda o programa Só Noticías, na Rádio Bandeirantes AM, de segunda a sexta às 7h30 da manhã, e apresenta o programa Mercado Aberto, no Canal X, que é voltado para o público imobiliário.

Sobre a cidade de Itajaí, Graciliano é só elogios, “ Itajaí é a melhor cidade de Santa Catarina, Florianópolis pode ser a capital, Blumenau e Joinville podem ser maiores, mas nada é mais encantador do que morar aqui. As pessoas são incríveis e educadas, o turismo, o porto, tudo aqui é muito bonito.

 http://www.youtube.com/watch?v=tyPWsBtOzYU&feature=youtu.be

O Hotel Rota do Mar

O colorido do vitral na janela do segundo andar é um dos muitos detalhes especiais no Rota do Mar, o primeiro hotel construído na cidade de Itajaí. Localizado à Rua Lauro Müller, o hotel é um espetáculo para fãs de objetos antigos e da história. Móveis esculpidos artesanalmente em ferro, teares e máquinas de escrever rudimentares, lustres e outros objetos preservados através do tempo encantam quem aprecia antiguidades. O chão em madeira escura, as tapeçarias e as luzes amareladas, usadas com parcimônia, completam a atmosfera um pouco sombria do lugar. O aspecto clássico é quebrado apenas por um computador, um sistema de monitoramento por câmeras e uma geladeira da Coca-cola no hall.

Inaugurado em 1897, com o nome de Hotel Brasil, foi administrado por famílias tradicionais de Itajaí como os Reiser, os Bughardt e os Malburg. Há 14 anos é administrado pela família de Adriana dos Santos, 41. Segundo ela, o hotel sempre foi ponto para transações comerciais e troca de informações. Durante a Primeira Guerra Mundial, o era o ponto em que se buscavam informações a respeito dos combates ocorridos na Europa. Lá, famílias de imigrantes europeus instaladas na região buscavam as correspondências trazidas pelos emissários, vindos do além mar, hábito mantido durante a Segunda Guerra. Nesta, os brasileiros – entre eles alguns itajaienses – também lutaram, e a busca por notícias cresceu.

Logo, o Hotel Brasil tornou-se o principal ponto de encontro de executivos, homens de negócios que ali se alojavam e discutiam a vida de Itajaí. Grandes transações foram feitas no prédio, que era reduto da elite e de grandes figuras que passavam pela região. Hoje, o Rota do Mar não oferece o mesmo glamour a seus hóspedes, mas oferece a oportunidade de observar um pouco dessa história rica. Inspirado nos estilos romântico e neoclássico, o prédio mantém intacta boa parte de sua estrutura inicial. Patrimônio tombado, recebe cuidado constante dos administradores para garantir sua preservação.

Andar pelos três andares do hotel é como voltar ao passado. Da escada escura aos parapeitos modelados em ferro; dos azulejos pintados à mão até as placas que identificam os quartos, tudo lá dentro cheira à história. Segundo Adriana, além da estrutura, móveis e objetos, os hábitos que caracterizaram o hotel desde sua inauguração também permanecem.

– Até hoje se faz negócio aqui dentro. As pessoas marcam encontros aqui, consulta médica, deixam e pegam encomendas, como era há anos.

Administrado por itajaienses, o Hotel Rota do Mar valoriza a história da cidade. Basta entrar na sala de café da manhã para ver fotos e pinturas que retratam a uma Itajaí de décadas passadas. É um bom local para quem quer conhecer mais sobre a cidade e ser bem recebido.

Saudades da minha Brava

Casados há três anos, Walter Pastorini e Carmem Lucia sonhavam com uma casa na praia. Nascidos em Cascavel, uma cidade localizada no interior do Paraná, planejavam concretizar o sonho. Antes disso, precisavam se ajeitar como casal e comprar a primeira casa própria.

Como não tinha expectativa de bons empregos na cidade, Walter veio a passeio para Balneário visitar parentes que por aqui já estavam instalados, e viu na cidade oportunidades de trabalho e a realização de morar no litoral. Por aqui se instalou na casa de parentes até conseguir trabalho fixo e a oportunidade de trazer a esposa.

Balneário estava em plena expansão e crescia em ritmo acelerado. O jovem Walter então teve a oportunidade de trabalhar no ramo da construção civil e participou da construção do Shopping Atlântico. Com o primeiro mês de trabalho, Walter alugou um espaço e trouxe a esposa pra junto dele.

A demanda de trabalho começou a aumentar sem que os ganhos acompanhassem o crescimento de produção. O então operário foi em busca de nova colocação no mercado como representante comercial. Como o negócio funcionava através de metas, “meu patrão queria que fizéssemos dívidas pessoais para que nos esforçássemos mais trás de compradores”.

Walter atendia diversas cidades, entre elas Tijucas, Canelinha, Balneário Camboriú, Camboriú e Itajaí, onde atendia alguns poucos comerciantes na praia Brava. “Na realidade, lá na praia só atendia mesmo um cliente que era dono de um quiosquezinho de casqueiro de pinos que ficava na beira da praia, era só ele e o vento no inverno”.

A localidade despertava os sentidos do vendedor, que em meio a diversos lotes a venda, sonhava com lugar que trazia o marasmo do interior e o sonho de morar à beira mar. Sem saber, o patrão de Walter lhe ofereceu como numa espécie de permuta um terreno na praia Brava, o mesmo mantinha na localidade um sítio.

Assim que viu o terreno, logo as lembranças do interior lhe vieram a cabeça, a oportunidade de sair do aluguel ajudaram a aceitar o negócio e o jovem casal foi morar em sua casa própria.

A restinga dominava grande parte da faixa de areia. Da casa do casal, era possível visualizar o mar e ouvir o quebrar das ondas na areia. “Nas noites de luar, quando o reflexo da lua batia na água, era tão romântico. Eu abria a janela do quarto só pra ficar olhando, até altas horas, aquela paisagem”, revela diz Lucia com os olhos brilhando.

“Teve uma vez, no meio da madrugada, que um cachorro não parava de latir. Daí, o Walter acordou e foi ver o que estava acontecendo. Quando chegou perto do cachorro, tinha um siri garrado na boca dele. Lembramos dessa história com saudades e chega parecer lenda quando olhamos a distância que hoje moramos da praia. Não temos mais o prazer de antigamente”, conta Lucia, que hoje mora a muitas quadras da beira-mar.

Os quiosques começaram a se expandir e a Brava começou a ficar movimentada, apesar de a praia estar em uma das cidades mais badaladas e procuradas do país, sempre foi considerada uma praia tranquila para se morar.

A praia Brava é uma das mais frequentadas praias de Itajaí, que devido à proximidade com Balneário Camboriú, é frequentemente confundida territorialmente – a divisão dos municípios é feita por um pequeno rio que delimita a praia dos Amores, pertencente a Balneário Camboriú, e a praia Brava, pertencente a Itajaí.

A praia, que é sinônimo de marasmo no restante do ano, está se tornando alvo da construção civil. Recentemente ganhou notoriedade nacional devido à degradação proporcionada pelos empreendimentos. Hoje o metro quadrado na paradisíaca praia vale milhões de reais, isso se tratando apenas de um pedaço pequeno de terra, se é que, se acha para comprar.

Apesar das construções, que divide opiniões, o casal é incisivo em defender e acusar as modificações. Walter vê as mudanças como algo bom que valoriza os espaços, porém rejeita degradação de lagos e restinga. “Lá na em casa nunca deu nem uma poça d’água, hoje em dia qualquer chuvinha, já alaga pontos da rua que ainda não dispõe de boca de lobo para o escoamento da água nem saneamento básico”.

Lucia que apesar de não ser contrária ao marido também vê as modificações por dois pontos: primeiro pelo lado da saudade que guarda da luz da lua na janela do quarto e dos domingos de pescaria nas lagos nas proximidades de casa, por outro a chegada de melhorias no bairro, como o comércio efetivamente funcionando, saneamento, iluminação e segurança. “Afinal, não basta só construir apartamento de luxo e jogar os dejetos do povo chique na nossa praia”.

Japonês faz história no Mercado do Peixe

Um dos principais pontos turísticos da cidade de Itajaí, sem dúvida alguma, é o Mercado do Peixe. Com 38 boxes, está localizado às margens do Itajaí-açu. O Mercado, apesar do nome tão específico, abriga uma floricultura, casa de ervas, artesanato, restaurante, bar e uma quitanda. A quitanda, por sua vez, é muito mais conhecida pela figura emblemática do seu dono, que pela variedade de condimentos, molhos orientais, frutas e verduras frescas, oferecidos à fiel clientela.

Uma Kaiser gelada está sobre o balcão, rodeado pelos velhos clientes e amigos do dono. A banca do Japonês ganhou fama pela origem de seu proprietário. Seus olhos puxados compõem o rosto de feição séria, jaleco azul, boné vermelho no alto da cabeça com cabelos lisos e pretos. Características que ajudam a manter o que parece ser um personagem ilustre e muito bem lembrado por quem ali passa.

O semblante de durão some quando se fala na segunda guerra mundial ou do país que lhe originou. Hemilio Sato, descendente de japoneses, nasceu no interior de São Paulo e há dezoito anos foi para o Japão tentar melhores condições de vida. Após dois anos de vivência, Sato recebeu o convite do cunhado e do sogro para retornar ao Brasil e aqui montar o seu próprio negócio. A proposta de montar o negócio que distribui aromas e sabores se deu depois de uma viagem feita pelo cunhado de Sato ao Brasil.

Hemilio era acostumado a viver em cidades de grande porte, no qual o comércio funciona quase que vinte e quatro horas por dia devido à quantidade de pessoas e à procura por mercadorias. Com experiência no comércio, praticamente nunca via juntar poeira na prateleira devido ao entra e sai da freguesia. Dessa forma, o comerciante aceitou a proposta e mudou-se pra Itajaí com a família em 1997.

Apesar de todas as ideias e planos para um futuro promissor, Japonês, como é conhecido por comerciantes e fregueses de Itajaí, lembra com pesar sua vinda para a cidade há dezesseis anos, numa época em            que a economia da cidade ainda engatinhava. No início, não tinha perspectiva de sucesso para o seu futuro negócio e pensou várias vezes em retornar ao país de origem de seus pais.

Na época, a formosura do centro da cidade contrastava com o número de prostíbulos nos arredores do porto de Itajaí. Hemilio, ao deparar-se com essa realidade, ficou assustado e pensou mais uma vez em retornar ao Japão. Contudo, as despesas na época para retornar à Ásia seriam exorbitantes. Então, resolveu tentar a vida por aqui.

“Quando eu cheguei aqui, nos finais de semana não existia vida nas ruas, o comércio fechava sábado depois do meio dia e abriria de novo só na segunda-feira. O pior era durante a semana que do meio dia às duas da tarde era tudo fechado”, revela Japonês.

Após dezesseis anos de empenho e força de vontade, hoje a banca do japonês é frequentado por amigos que junto com ele viram a avenida Beira Rio, se tornar uma via gastronômica, o porto tomar forma e ampliar seu tamanho, o Mercado Público e sua emblemática reforma. Itajaí passou por diversas mudanças, porém para quem vivenciou os metrôs de São Paulo e os trens do Japão, Itajaí continua longe de se tornar a cidade que ele espera.

Mapas do destino

Nalba Lima de Souza, nascida na cidade Belém, descobriu desde muito cedo o dom de lecionar. Ainda sem formação acadêmica, começou a ensinar aos pequenos antes mesmo de terminar o segundo grau. A professora não esperava que o mundo fosse girar tão rápido e depois de tantas viagens ajudaria a escrever os rumos de uma cidade do outro lado do país.

Nalba, aos 28 anos, já formada em letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, viu sua vida começar a ser traçada após casar-se com um militar. Depois do primeiro remanejamento do esposo, a jovem professora percebeu que sua vida teria que recomeçar em cada lugar para o qual o marido fosse transferido. O jovem casal então começou a traçar seus caminhos juntos.

No ano 1974 quando veio à primeira carta de transferência para a cidade do Rio de Janeiro, a professora percebeu que teria que, de alguma forma, se tornar uma funcionária do governo e assim poder acompanhar o esposo com mais tranquilidade. Foi quando começou a estudar para provas de concursos públicos.

Apesar da alegria e um currículo já muito grande, ao contrário de sua estatura física, Nalba começou a perceber que a vida fora de seu estado natal e longe de seus familiares começaria a ficar difícil, principalmente por conta do preconceito de sua naturalidade. Com sua presença frágil, porém muito irreverente, Nalba soube melhor do que ninguém driblar as dificuldades da vida e continuar alçando novos voos.

Depois do Rio de Janeiro, a família formada por dois funcionários do governo e uma criança que acabara de nascer, mudou-se para a capital de Santa Catarina. A professora por dom e sonho, aproveitou à oportunidade de residir próximo a universidade federal do estado, no qual concluiu a especialização em literatura brasileira no curso de mestrado.

A carta de transferência que parecia ser um mapa a ser percorrido, literalmente de norte a sul do país, agora envia a família para o Rio Grande do Sul, e, pouco tempo depois novamente a Santa Catarina, dessa vez para a cidade de Itajaí.

Na cidade para onde acabara de mudar-se com a família, a professora lecionava língua portuguesa na escola Nilton Kucker, no bairro Vila Operária, foi quando em meados de 1989, o professor Armando Furlani, convidou a mestra para dar aula no curso de economia na Fepevi, que estava a “cata de mestres” para comporem o corpo docente.

Uma faculdade na cidade ampliaria os horizontes e ajudaria também na importação e exportação de pessoas para o mercado de trabalho do mundo inteiro.

Quando a professora chegou à fundação, existia apenas uma sala de professores e isso facilitava a proximidade entre todos. Em uma sala de madeira, ela lecionava aulas de comunicação empresarial para alunos do curso de administração.

A instituição crescia com a cidade e a opção de novos cursos acompanhava esse crescimento. Como o número de docentes ainda era insuficiente para ser dividido em centros como se vive hoje.

Nalbinha, como começou a ser chamada, devido a sua estatura, sem perder a alegria e a irreverência na ministração, adquiridas em um cursinho pré-vestibular na cidade do Rio de Janeiro, ministrou aulas nos cursos de Administração, Pedagogia, Hotelaria e Turismo e Direito.

Junto à transformação da fundação viriam também outras tantas transformações inclusive na cidade. Parecendo agradecer, a arquitetura de Itajaí se lança através dos vitrais de seu apartamento, sentada na mesa de estudos da biblioteca pode observar, através de finas colunas enfileiradas, uma ao lado da outra, num espaçamento máximo de vinte e cinco centímetros, os agradecimentos que a cidade lhe proporciona.

Em segundo plano se sobrepõe ao longe com várias luzes, algumas parecem piscar, como quem xaveca a mocinha do apartamento ao lado, as luzes de segurança dos guindastes do porto, atentam para pássaros e aeronaves a possibilidade de colisão com tamanha estrutura, mais próximo à janela é possível avistar a replica da catedral de Notre Dame a qual faz estrema as paredes de seu apartamento, a Igreja matriz abriga a imagem de São Sebastião, santo padroeiro da cidade.

Pela janela da cozinha, partes da praça em frente à matriz pode ser vista, algumas casas e a lanchonete Garoto, onde por anos podia-se ver passivamente, como se estivesse em um camarote do teatro municipal o show de graça, glamour e elegância, ministrado a esmo pra quem quisesse a observar, dona  Margareth a espera de seu noivo que um dia desembarcara de um navio que nunca atracou.

Tiara de flores na cabeça e rebuscada de batom o show parecia não se findar nunca, com tamanha alegria e infelizmente sem nenhum aplauso ao fim de cada ato. Dona Margareth se divertia em suas apresentações a espera de seu grande amor.

Itajaí, por sua vez faz sua parte, mas a professora não se cansa de escrever histórias e ter participação efetiva no curriculum de centenas de ex-alunos. Hoje Nalba Lima e Sousa ou simplesmente a Nalbinha, apesar de aposentada, continuam escrevendo a história de outra cidade. A mestra em literatura brasileira ministra aulas da faculdade Sinergia, em Navegantes, que hoje recebe duas vezes por semana o sotaque nordestino, a estatura baixa, os cabelos vermelho rubi e as rugas experientes de quem um dia ajudou a escrever a vida profissional e educacional de Itajaí.

A praia intocada

Ricardo de Oliveira                                     

Um paraíso dentro de Itajaí, a Praia do Atalaia é tão pequena, que para a descrevê-la, vale aquela frase clichê, nos menores frascos estão os melhores perfumes. Boa parte modificada pelo homem, se mantém limpa e parece um paraíso calmo com o vento batendo no rosto. Logo quando se chega, pode-se ver uma arquibancada de concreto, onde as pessoas vão para simplesmente ler livros, sentar e relaxar ou até namorar.

“E ninguém queria saber dela”. Com essas palavras, Kao, proprietário do bar mais antigo da praia, descreve o Seu Atalaia, como ele mesmo chama. Kao se emociona ao comparar a praia como era antes, visada por assaltantes, onde as famílias tinham medo de vir à noite para passear, com a de hoje. “A praia cresceu muito com a iluminação, os campeonatos de futebol amador e o asfalto. Hoje atendemos ao público do Futvôlei , do Surf, do Futebol de Areia e do voo Livre, todos vêm”. Para Kao, não há como o homem interferir em tão bela praia para com construções, uma garantia de preservação do local. “A única obra que tentaram colocar aqui, foi embargada”.

A Atalaia e Kao se confundem em sua história, já que o primeiro bar a chegar e apostar no crescimento da praia foi o seu. A praia é amada por todos, pois partilham seu espaço sem brigas, conta Alex, de 28 anos que passava por ali para praticar seu surf de amanhã.

Resumindo, a Atalaia pode ser considerada a única praia em Itajaí que nunca foi mexida pelos homens e, provavelmente, nunca será.

Da Hora

Para aqueles que têm o hábito de visitar a Casa da Cultura Dide Brandão em Itajaí, é natural  lembrar dele. Falador, barba para fazer, roupas simples. Gesticulava e salivava com o bafo típico dos boêmios. Mas a péssima primeira impressão dava espaço a uma certa admiração, de alguém que era muito diferente dos demais.

César Volnei Nery da Hora, o César da Hora, nasceu no dia 23 de janeiro de 1965, era o mais velho dos seis irmãos. Eduardo Hora, irmão do artista, conta que César parecia mais novo psicologicamente.  A Dide Brandão era sua casa, vivia mais lá que em qualquer outro lugar. Artistas, estudantes, professores, todos viviam trocando palavras e até aprendendo com o Hora. Lá mantinha um ateliê de entalhe em madeira e dava aulas. “Começou a carreira meio tardiamente, depois dos 20 anos. Não tinha outras aptidões, “conta o irmão, que ainda lembra que o primogênito nunca fez cursos. “Era muito talentoso, apesar de ser autodidata”.

César da Hora tinha solução para os problemas dos outros e nenhuma para os seus. Eduardo conta que ele foi o cara mais espirituoso que conheceu. “Meu irmão foi uma das pessoas mais autênticas da face da terra. Me ensinou que esse modo de vida pequenos burguês que sempre vivi é uma grande porcaria.”

 A infância, típica de cidade do interior. Jogo de bola no quintal, bolinha de gude, pipa, brincadeiras de cowboy, capa e espada e esconde-esconde. “O César trocava com o vizinho Carlos Niehues,  seus soldadinhos do forte apache pelo empréstimo da bicicleta Caloi para visitar a namoradinha, que ninguém da família jamais conheceu, “ conta Eduardo.

 Na adolescência, trilhou os caminhos do movimento hippie e passou a contemplar o mundo através das lentes dos alucinógenos, mergulhando a cabeça e a alma em um universo paralelo, sem perder as referências das suas origens. “Foi um autêntico papa- siri com todos os seus maneirismos.”

 Em 1972 César perdeu a mãe e segundo Eduardo, essa foi a grande causa da sua dispersão. Sua relação com a pai foi conflitante a partir de então. No início dos anos 80, por influência de um grande amigo e protetor, conheceu a arte do entalhe em madeira. Concluiu diversas obras, buscando inspiração em capas de LPs de bandas de rock e temas marinhos. Vendeu todas. “Foi contratado pela antiga loja Dutra e Cia como entalhador de portas, concluiu umas 20 e saiu pelas praias de Santa Catarina gastando o dinheiro, levando consigo uma mochila e uma barraca.” Conquistou daí, o respeito e a amizade, não apenas, dos colegas artistas, mas também de empresários, profissionais liberais e artistas consagrados.

 Sobreviveu durante muitos momentos das encomendas dessas pessoas e do carinho e respeito de gente como Toni Cunha, Edson D’Ávilla, Ronaldo Silva Jr, Ane Fernandes, Deolla, Lúcia Mendes, Mônica Uriarte, Sônia Moreira, Acyr Osmar de Oliveira, família Junkes e tantos outros que sempre o adotaram nas suas instabilidades causadas por uma característica marcante,  jamais planejou o dia seguinte.  Todos os seus irmãos o protegeram das mais diversas maneiras e pode-se dizer que  César, paradoxalmente, foi feliz.

Tinha 56 anos quando deixou de ser visto por aí. Pela Dide Brandão ou pelas ruas da cidade. Partiu e deixou saudade. Morreu em dezembro de 2012, solteiro, vítima de câncer. Há quem diga que seu espírito ainda vaga pelos corredores da casa, e pode ser visto pelos mais sensíveis.

Fotos: Fernanda Freitas

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Ao pé do abacateiro

Série de perfis

“Itajaí: profissões que sobrevivem ao tempo”

BANCA DE REVISTA
Ao pé do abacateiro

 Por Karine Mendonça

Sempre que Joaquim Antônio Pereira da Silva, de 89 anos, retornava das viagens que realizara pela Marinha, seus 12 filhos faziam festa. Além de matar a saudade do pai, as crianças aguardavam ansiosas pelas revistas em quadrinhos que este trazia na bagagem.

Na casa que fica na esquina da avenida Joca Brandão com a rua Uruguai, no centro de Itajaí, os pequenos amontoaram duas caixas de revistas velhas. Como não viam utilidade no material, as crianças pediram pro pai jogar fora. Contudo, Joaquim censurou a decisão.

Ele consertou uma mesa que já tinha as pernas bambas, encostou contra o muro que tinha a mesma altura, estendeu uma toalha e colocou dois vasos de violeta para enfeitar. Acomodou as caixas sob a mesa e inventou uma nova brincadeira para as duas filhas mais velhas.

– Já que essas revistas não têm mais utilidade para vocês, brinquem de vender revistas.

A mesa fora colocada em um lugar estratégico: debaixo de um pé de abacate. As crianças poderiam brincar durante todo o dia sem se queimar com o sol.

– Revistas, revistas muito interessantes. Compre uma revista! -, cantarolavam as meninas aos passantes.

Elas começaram às nove horas da manhã e quando correram pra dentro de casa para tomar o café da tarde, às 15h, as revistas já tinham acabado. Foi então que Joaquim, perto de se aposentar, percebeu que aquela esquina era um ponto ideal para montar uma banca de revista.

Isso aconteceu em meados dos anos 1980. Quando Joaquim foi fazer a primeira reposição do estoque, o material era tão pouco que coube na garupa da bicicleta. E eles continuaram assim por dois anos, oferecendo revistas debaixo de um abacateiro.

Em 1987, Joaquim resolveu construir a própria banca. Ocupou parte do quintal para edificar a construção. No lugar da mesinha, prateleiras de zinco. Para preencher os espaços vazios, Joaquim foi atrás de mais revistas. No entanto, acabou comprando tantas, que a bicicleta não deu conta e tombou no meio da rua. Era revista pra tudo quando é lado. Ele parou o trânsito.

Joaquim lembra que nessa época, o movimento era grande. Parecia um cartão ponto, todo mundo dava uma passadinha na banca pra ler as notícias do dia. Ele conta que vendia mais de 100 jornais Diarinho por dia. Hoje, não vende nem cinco.

Com o sucesso de vendas na época, Joaquim resolveu variar as opções de mercadoria: comprou um freezer de sorvetes da Nestle.

Hoje tem uma infinidade de produtos. Pilhas, paçoca, doces, livros, revistas, palavras cruzadas, revista de tricô, de fofoca, de celebridades, de saúde, de esportes e cultura. O pé de abacate, este não existe mais.

Palavras de sabedoria e de conselho destilam dos lábios de Joaquim como se fossem mel.

– Minha filha, o mundo é uma escola. Quer ser feliz? Seja sempre correta e faça o bem. Não cultive inveja, evite brigas e sorria sempre.

Cada cliente que adentra à banca, o senhorzinho de cabelos alvos como a neve e de pele que não denuncia as quase nove décadas de vida, brinda com seus reflexões.

 – O que me faz viver é conversar com as pessoas. Ensino tudo o que posso e aconselho sempre.


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