Nalba Lima de Souza, nascida na cidade Belém, descobriu desde muito cedo o dom de lecionar. Ainda sem formação acadêmica, começou a ensinar aos pequenos antes mesmo de terminar o segundo grau. A professora não esperava que o mundo fosse girar tão rápido e depois de tantas viagens ajudaria a escrever os rumos de uma cidade do outro lado do país.
Nalba, aos 28 anos, já formada em letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, viu sua vida começar a ser traçada após casar-se com um militar. Depois do primeiro remanejamento do esposo, a jovem professora percebeu que sua vida teria que recomeçar em cada lugar para o qual o marido fosse transferido. O jovem casal então começou a traçar seus caminhos juntos.
No ano 1974 quando veio à primeira carta de transferência para a cidade do Rio de Janeiro, a professora percebeu que teria que, de alguma forma, se tornar uma funcionária do governo e assim poder acompanhar o esposo com mais tranquilidade. Foi quando começou a estudar para provas de concursos públicos.
Apesar da alegria e um currículo já muito grande, ao contrário de sua estatura física, Nalba começou a perceber que a vida fora de seu estado natal e longe de seus familiares começaria a ficar difícil, principalmente por conta do preconceito de sua naturalidade. Com sua presença frágil, porém muito irreverente, Nalba soube melhor do que ninguém driblar as dificuldades da vida e continuar alçando novos voos.
Depois do Rio de Janeiro, a família formada por dois funcionários do governo e uma criança que acabara de nascer, mudou-se para a capital de Santa Catarina. A professora por dom e sonho, aproveitou à oportunidade de residir próximo a universidade federal do estado, no qual concluiu a especialização em literatura brasileira no curso de mestrado.
A carta de transferência que parecia ser um mapa a ser percorrido, literalmente de norte a sul do país, agora envia a família para o Rio Grande do Sul, e, pouco tempo depois novamente a Santa Catarina, dessa vez para a cidade de Itajaí.
Na cidade para onde acabara de mudar-se com a família, a professora lecionava língua portuguesa na escola Nilton Kucker, no bairro Vila Operária, foi quando em meados de 1989, o professor Armando Furlani, convidou a mestra para dar aula no curso de economia na Fepevi, que estava a “cata de mestres” para comporem o corpo docente.
Uma faculdade na cidade ampliaria os horizontes e ajudaria também na importação e exportação de pessoas para o mercado de trabalho do mundo inteiro.
Quando a professora chegou à fundação, existia apenas uma sala de professores e isso facilitava a proximidade entre todos. Em uma sala de madeira, ela lecionava aulas de comunicação empresarial para alunos do curso de administração.
A instituição crescia com a cidade e a opção de novos cursos acompanhava esse crescimento. Como o número de docentes ainda era insuficiente para ser dividido em centros como se vive hoje.
Nalbinha, como começou a ser chamada, devido a sua estatura, sem perder a alegria e a irreverência na ministração, adquiridas em um cursinho pré-vestibular na cidade do Rio de Janeiro, ministrou aulas nos cursos de Administração, Pedagogia, Hotelaria e Turismo e Direito.
Junto à transformação da fundação viriam também outras tantas transformações inclusive na cidade. Parecendo agradecer, a arquitetura de Itajaí se lança através dos vitrais de seu apartamento, sentada na mesa de estudos da biblioteca pode observar, através de finas colunas enfileiradas, uma ao lado da outra, num espaçamento máximo de vinte e cinco centímetros, os agradecimentos que a cidade lhe proporciona.
Em segundo plano se sobrepõe ao longe com várias luzes, algumas parecem piscar, como quem xaveca a mocinha do apartamento ao lado, as luzes de segurança dos guindastes do porto, atentam para pássaros e aeronaves a possibilidade de colisão com tamanha estrutura, mais próximo à janela é possível avistar a replica da catedral de Notre Dame a qual faz estrema as paredes de seu apartamento, a Igreja matriz abriga a imagem de São Sebastião, santo padroeiro da cidade.
Pela janela da cozinha, partes da praça em frente à matriz pode ser vista, algumas casas e a lanchonete Garoto, onde por anos podia-se ver passivamente, como se estivesse em um camarote do teatro municipal o show de graça, glamour e elegância, ministrado a esmo pra quem quisesse a observar, dona Margareth a espera de seu noivo que um dia desembarcara de um navio que nunca atracou.
Tiara de flores na cabeça e rebuscada de batom o show parecia não se findar nunca, com tamanha alegria e infelizmente sem nenhum aplauso ao fim de cada ato. Dona Margareth se divertia em suas apresentações a espera de seu grande amor.
Itajaí, por sua vez faz sua parte, mas a professora não se cansa de escrever histórias e ter participação efetiva no curriculum de centenas de ex-alunos. Hoje Nalba Lima e Sousa ou simplesmente a Nalbinha, apesar de aposentada, continuam escrevendo a história de outra cidade. A mestra em literatura brasileira ministra aulas da faculdade Sinergia, em Navegantes, que hoje recebe duas vezes por semana o sotaque nordestino, a estatura baixa, os cabelos vermelho rubi e as rugas experientes de quem um dia ajudou a escrever a vida profissional e educacional de Itajaí.